sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

As origens do Yoga


A palavra yoga é um substantivo masculino de origem sânscrita. O sânscrito, língua da família indo-europeia, floresceu na Índia antiga, a partir provavelmente do século XX a.C. – época do sânscrito védico, registrado nos quatro livros mais antigos da cultura sânscrita, os Vedas – e em todos os séculos seguintes.

O sânscrito que conhecemos atualmente é aquele que nos chegou através de um grande volume de textos acumulados pela cultura ao longo dos séculos, e representa a norma culta da língua falada pelos povos que se auto-intitulavam arya, na Índia antiga. A palavra samskrta significa exatamente “bem feito”, “acabado”, em oposição à designação dada aos linguajares populares, que eram prakrta (“prácritos”) – estes, por sinal, os que viriam a se tornar as várias línguas do norte da Índia.

Em sânscrito foram compostos os grandes poemas épicos, o Mahabharata e o Ramayana, num registro que se convenciona chamar de “sânscrito épico”. Também está registrada em sânscrito toda a literatura sagrada do Hinduísmo. Isto ocorreu porque, como língua-símbolo de toda uma cultura, o sânscrito continuou a ser falado nas cortes e nos círculos eruditos, e redigido nos círculos literários em toda a Índia, ao longo dos séculos, não obstante a crescente multiplicação das línguas e diletos falados pelas massas.

A origem da prática denominada yoga parece perder-se na noite dos tempos. Um sinete de barro cozido encontrado nas escavações arqueológicas no Vale do rio Indo – no atual Paquistão -, no início deste século, apresenta uma curiosa figura sentada em padmasana, a “postura de lótus” característica do yoga, trajando uma pele de tigre e cercada por animais. O sinete (manufaturado talvez por volta de 3.000 a.C.) apresenta notável semelhança com as representações do deus Siva, arquétipo do yogin (praticante de yoga), e considerado até hoje a divindade tutelar do yoga.

Desde que os centros dessa civilização foram primeiramente encontrados ao longo do rio Indo, alguns arqueólogos lhe dão o nome de civilização do Vale do Indo; outros chamam-lhe Cultura Harapânica. Tenha o nome que tiver, floresceu durante mil anos, de cerca de 2500 a cerca de 1500 a.C., e em seguida desapareceu misteriosamente.

Entre o apogeu desta civilização e a irrupção do povo arya há um misterioso lapso que os historiadores, arqueólogos e linguistas ainda tentam reconstruir. Ao que parece, a cultura do Indo foi subjugada e vencida por um povo invasor que se autodenominava arya e que falava uma língua do ramo indo-europeu que, séculos mais tarde nas terras invadidas, iria se tornar o sânscrito. Os arya não deixaram cidades, nem estátuas, nem sinetes de pedra, nem panelas, tijolos ou cemitérios que os cientistas possam escavar, classificar e interpretar. O que deixaram, porém, foi um dos mais extraordinários corpos de literatura do mundo. Estamos nos referindo a uma coletânea de quatro livros de hinos litúrgicos da classe sacerdotal do povo arya, intitulados os quatro Veda (Rgveda, Samaveda, Atharvaveda e Yajurveda).

O “período védico” inicia-se por volta de XX-XV a.C. e vai até a fase de transição representada pelos textos das primeiras Upanishad, e que culminará nas figuras de Buddha e Mahavira (ambos, circa VI a.C.).

Somente no período seguinte, denominado “período épico-bramânico” (circa VIII a.C. – II d.C.), que encontraremos referências explícitas e sistemáticas às práticas do yoga; aliás, este é o período no qual vamos encontrar o texto Yogasutra.

O fato de que as práticas do yoga tenham sido abundantemente citadas e descritas somente na literatura da cultura sânscrita posterior ao período védico e de que, ao mesmo tempo, também não constem elas em nenhuma outra literatura do mundo indo-europeu, tem sido indicadores aos estudiosos desta cultura de que realmente o yoga não foi uma contribuição indo-europeia trazida pelo povo arya, senão um sistema de origem autóctone, já existente entre os povos da região, e que foi paulatinamente assimilado e absorvido pelos conquistadores.

 

Para saber mais, indico o riquíssimo estudo de Lilian Cristina Gulmini: “O Yogasutra de Patanjali – Tradução e análise da obra, à luz de seus fundamentos contextuais, intertextuais e linguísticos”.

Quando eu disse que voltaríamos ao comecinho era bem comecinho mesmo, né?

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