sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Onde está Deus?

O Vinícius, meu amigo Sadhu (rsrs), estava se questionando por que fazemos prostrações se já somos o Atman imortal. Conceito meio complicado, realmente. Então me lembrei deste trecho do livro “Autobiografia de um Iogue” de Paramahansa Yogananda e deixo aqui para reflexão (dele e de quem mais interessar):

"Entrei no sagrado recinto de Tarakeswar. No altar havia apenas uma pedra redonda. Sua circunferência, sem começo e sem fim, é extremamente apropriada como representação do infinito. Abstrações cósmicas não são coisa do outro mundo nem mesmo para o mais humilde dos camponeses indianos que, de fato, tem sido acusado pelos ocidentais de viver abstrações!
Meu estado de espírito naquele momento estava tão circunspecto que não senti vontade de me prostrar em reverência diante do símbolo de pedra. Deus só deve ser procurado, refleti, dentro da alma.
Deixei o templo sem fazer sequer uma genuflexão e caminhei a passos largos em direção à aldeia Ranbajpur, que ficava nos arredores da cidade de Tarakeswar. Pedi informação a um homem que por ali passava. Depois de refletir longamente, ele disse, por fim, em tom de oráculo:
_Quando chegar a uma encruzilhada, vire à direita e siga sempre em frente.
Obedeci à orientação e segui meu caminho ao longo das margens de um canal. A noite chegou e, com ela, o cintilar dos vagalumes e os uivos dos chacais deram vida às cercanias daquela aldeia encravada na floresta. A luz do luar era tênue demais para suscitar qualquer sentimento de segurança. Vaguei, trôpego, por cerca de duas horas. Ouvi, então, o animador tinir do sino preso no pescoço de uma vaca! Por fim, meus repetidos gritos fizeram com que o camponês se aproximasse.
_Estou à procura de Ram Gopal Babu.
_Não há ninguém com esse nome na nossa aldeia.
(...)
No meio da tarde, meu mundo ainda era um infindável campo de arroz. O calor que emanava da atmosfera, e que eu não tinha como evitar, estava me levando a um iminente colapso. Quando um homem se aproximou de mim, caminhando sem pressa, mal ousei repetir a costumeira pergunta, temendo receber a mesma e monótona resposta: _Fica apenas a uma krosha.
O estranho parou do meu lado. Baixo e magro, seu aspecto físico não era marcante, salvo por um par de olhos extraordinariamente penetrantes.
_Pretendia deixar Ranbajpur, mas como suas intenções são boas, resolvi esperá-lo. (...) Diga-me. Onde você acha que Deus está?
_Bem, Ele está dentro de mim e em toda parte. - Sem dúvida, minha perplexidade era perceptível.
_Onipresente, não? – O santo riu. – Então, meu jovem senhor, por que ontem, no templo de Tarakeswar, não se curvou ao Infinito no símbolo de pedra? Seu orgulho fez com que fosse punido, recebendo a indicação errada do homem que não estava preocupado em distinguir a esquerda da direita. Hoje também você passou por maus momentos!(...) A tendência de todo devoto é pensar que seu caminho para Deus é o único que existe. Lahiri Mahsaya afirmava que a ioga, pela qual se pode encontrar a divindade interior é, sem dúvida, o caminho mais sublime. Ao descobrirmos Deus dentro de nós, logo O percebemos fora de nós. Santuários sagrados, em Tarakeswar e em outros lugares, são corretamente venerados, por serem centros nucleares de força espiritual."

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